Marianna Crioula

 Marianna Crioula foi uma mulher de grande expressividade no âmbito da insurreição de 1838, lutando bravamente e resistindo nesse período de intensas adversidades. 


Uma fuga de centenas de escravizados ocorrida em Vassouras e Paty do Alferes em 1838 foi um acontecimento histórico marcante no Vale do Café do século XIX. Estimularia um certo reordenamento na forma como eram tratados os escravizados pela classe senhorial da época e menos de uma década depois serviria de inspiração para a elaboração de um manual com instruções para os fazendeiros de café lidarem com seus plantéis, aconselhando os senhores a não forçarem tanto a barra e fazer certas “concessões”. Afinal, preto que podia ter sua roça e fazer festa de vez em quando, não teria tempo para se organizar em fugas e se revoltar contra seu senhor. Era essa a mentalidade dos fazendeiros de café no Vale do Paraíba do Brasil imperial, principalmente após esse evento da fuga que ficou conhecido como a “Insurreição de Manuel Congo”.

Na noite de 6 de novembro de 1838, um grupo de escravizados pertencentes ao capitão-mór Manuel Francisco Xavier fugiu de forma coordenada e previamente organizada de três de suas propriedades, o sítio de Encantos e as Fazendas Freguesia e Maravilha. O grupo partiu da Fazenda Freguesia e seguiu em direção à Maravilha, onde houve arrombamento da casa sede. Lá retiraram mantimentos, ferramentas, armas e seguiu em mais de 300 para as matas da Fazenda Santa Catarina. Há evidências de que eram liderados por Manuel Congo, João Angola, Epifânio Moçambique e Marianna Crioula.

Alguns indícios apontam que o estopim para a fuga teria sido a morte por assassinato do escravo Camilo Sapateiro na Fazenda Freguesia pelos jagunços do capitão-mór e a completa indiferença do senhor que não tomou qualquer providência em relação a esse fato, que gerou medo entre os escravizados.

Manuel Congo, apesar de ter sido enforcado em praça pública em 6 de setembro de 1839 por conta da fuga e do assassínio de dois pedestres integrantes da milícia formada para sufocar a rebelião e de ter seu nome marcado na história por causa dela, não foi o único herói desse acontecimento. A insurreição contou com o protagonismo direto de uma escravizada chamada Marianna Crioula, historicamente menos conhecida que Manuel Congo (hoje talvez nem tanto), mas tão importante quanto ele no contexto geral da insurreição.

O nome de Marianna ficou por muito tempo apagado na história. Surgiu com mais força no final dos anos 90 e nos últimos vinte anos passou a figurar mais nitidamente na memória e no imaginário da região. Nesse período houve uma considerável quantidade de referências à Marianna. Cresceu o número de ações, eventos, reportagens e outros projetos que trouxeram à tona o nome da escravizada. Filmes, documentários, vídeos no youtube, encenações teatrais, postagens, nomes de sala, creche, maternidade, ONG e outras ações em torno do nome dela. Não se trata de um movimento orquestrado, ou pensado em torno de alguma ocasião especial. Mas são ações que revelam a importância de Marianna Crioula e  a importância de evidenciar sua história tão inspiradora. E ela merece cada uma das homenagens, menções e referências.

A história de Marianna Crioula está intrinsecamente entranhada na história de Manuel Congo e na história da insurreição de 1838. Marianna é apontada como uma das líderes da rebelião ao lado de Manuel Congo e em alguns casos mencionada erroneamente como companheira (esposa) dele. O fato é que Marianna teve seu próprio protagonismo na insurreição e embora não tenha sido condenada à morte como Manuel Congo passou à história como uma figura de luta e de resistência, alguém que foi fundamental no processo de fuga e resistência na insurreição de 1838.





A princesa escrava

 Aqualtune em sua terra natal vinha de uma família real, sendo esta uma princesa. Todavia, após a derrota de seu povo, a mesma foi capturada e trazida ao Brasil para virar escrava. Sua linhagem detém grande significância histórica, haja vista que Zumbi dos Palmares era seu neto. 


Aqualtune foi uma princesa africana, filha do rei do Congo. No final do século XVI, sua nação foi invadida por um grupo de mercenários e, apesar de Aqualtune comandar um grupo de cerca de 10 mil homens e mulheres contra os invasores, seu povo foi derrotado.

Com a derrota, a princesa foi presa e levada para um mercado de escravos e, de lá, foi enviada para o Brasil.

Chegou ao Recife em 1597, mesmo ano em que um grupo de 40 negros fugidos chegou à Serra da Barriga, formando o primeiro núcleo do que seria o Quilombo dos Palmares.

Aqualtune foi vendida como escrava reprodutora e seguiu, já grávida, para uma fazenda na região de Porto Calvo. Foi nessa região que ouviu os primeiros relatos sobre um reduto de africanos livres e decidiu comandar uma fuga com destino a esse quilombo.

Com ascendência nobre e um histórico de comandar batalhas em sua terra natal, Aqualtune recebeu uma aldeia para comandar e ajudou a erguer o que seria “um império em meio à selva”, como definiu a jornalista Sandra Regina do Nascimento Santos, doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP e autora do livro ‘Brincando e ouvindo histórias’, parte de uma coleção do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro (NEINB), da USP.

Entre os filhos de Aqualtune estão os guerreiros Gamba Zumba e Gana Zona, e Sabina, mãe de Zumbi, o último líder do Quilombo dos Palmares.

A líder quilombola e avó de Zumbi dos Palmares desapareceu dos registros históricos em 21 de setembro de 1677, quando sua cidadela foi atacada, e não se sabe quando exatamente ela morreu. Na época do ataque, ela já era idosa.

Apesar de ser pouco lembrada pelos livros de História, Aqualtune foi uma figura muito importante para a história da população negra durante o período colonial. Ela simbolizou liderança e luta dentro do sistema escravocrata e passou isso adiante através de seus herdeiros e de seu comando no quilombo.


Fonte: Observatório do Terceiro Setor.



Gladys Mae West

Gladys Mae West, foi uma mulher negra que dispunha de vasto saber. Essa americana era uma incrível matemática, que denotou um papel central e de suma significância no desenvolvimento e criação de um dispositivo amplamente utilizado na contemporaneidade, o GPS. 



Gladys Mae West, mulher, cientista e negra, nasceu em 1930 no estado da Virgínia, nos Estados Unidos (EUA). De família humilde, lutou muito para atingir seu objetivo de concluir os estudos e seguir carreira na área de sua formação, a Matemática.

No ensino médio, Gladys dedicou-se excepcionalmente a sua educação, onde se formou como primeira aluna da classe e ganhou uma bolsa de estudo na Universidade de Virgínia, ingressando na graduação de Matemática. Mesmo com a bolsa, necessitava trabalhar para manter-se na universidade, assim exercendo a função de babá. Após formada, lecionou por 2 anos antes de iniciar o mestrado.  

No ano 1956, foi a segunda mulher negra a ingressar no Campo de Provas Naval da Virgínia, em Dahlgren, onde sua função era coletar dados dos satélites em órbita e depois inseri-los nos supercomputadores da base para análise de elevações de superfície.   

Dedicada ao trabalho, Gladys foi indicada por seu supervisor para diretora do projeto do satélite Seasat, o primeiro com a função de sensoriamento remoto dos oceanos por meio de radar. Nesse projeto, Gladys realizou um trabalho excelente ganhando prêmio e, em pouco tempo, tornou-se programadora de supercomputadores e diretora do projeto de processamento de dados usados em análises de satélites.

Mas foi em 1980 que realizou seu maior trabalho: a programação que calculava o geoide da Terra com precisões suficientes para a existência do GPS. Além dos primeiros passos para a construção do GPS, ela também desenvolveu um guia para melhorar a precisão dos dados obtidos por satélites, que auxiliou os futuros cientistas em seus estudos.

 Na base naval, trabalhou por 42 anos e se aposentou em 1998. Logo após sua aposentadoria, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), o qual afetou diversas funções do corpo e, por meio de fisioterapia, recuperou-se e realizou seu doutorado em Administração Pública e Política. 

Além do AVC, também necessitou de quatro pontes de safena e tratou um câncer em 2011. Mesmo com toda sua dedicação e contribuição para sociedade, somente em 2018 Gladys foi inserida no Hall da Fama dos Pioneiros do Espaço e Mísseis da Força Aérea dos Estados Unidos. Atualmente, com 91 anos, é considerada uma das 100 mulheres influenciadoras e inspiradoras da BBC em 2018.

Fonte: Unicentro Paraná


Hattie McDaniel

 Hattie McDaniel foi uma grande atriz negra, fazendo história ao levar o Oscar (prémio máximo do cinema) em sua atuação no filme “E o vento Levou”. Além do presente feito, Hattie foi a primeira mulher negra a protagonizar um programa de rádio.



Hattie McDaniel nasceu em 1895, nos Estados Unidos. Ela foi a filha caçula de 13 filhos de um casal de escravizados libertos que fugiram para o Kansas por conta da extrema pobreza.

Criada em uma família religiosa, desde criança ela foi incentivada a cantar música gospel na igreja e ler muitos livros.

Hattie decidiu logo cedo que não queria seguir o caminho de servidão ao qual as mulheres da época eram destinadas, então, ao lado de dois de seus irmãos, montou um grupo de vaudeville (gênero de entretenimento de variedades).

Em 1929, com o crash da bolsa de Nova York, o seu espetáculo acabou falindo, e ela foi tentar a sorte em Milwaukee. Conseguiu um emprego no hotel Suburban Inn, de Sam Pick, onde trabalhava no banheiro feminino. Em uma noite, quando todos os artistas haviam ido embora, o gerente pediu que um voluntário subisse no palco. Hattie começou a cantar e então passou a protagonizar o espetáculo do lugar.

Esse foi o primeiro passo para ela se destacar no mundo do entretenimento. No entanto, na década de 1930, existia o código Hays, um sistema de autorregulação dos estúdios de Hollywood que proibia romances inter-raciais na tela e também não permitia que os negros tivessem acesso aos papéis violentos. 

Os atores negros só ocupavam papéis irrelevantes para a história, normalmente de motoristas, garçons e empregados, e Hattie não conseguiu escapar deste estereótipo. Sua vida mudou quando ela se tornou uma das estrelas de um dos grandes sucessos de Hollywood: E o vento levou.

Ela interpretou Mammy, a criada sarcástica que era a única capaz de colocar limites em Scarlett, interpretada por Vivien Leigh. Mesmo inserida no clichê de empregada que só vive em prol do seu amo, ela conseguiu ser um dos maiores destaques do filme.

O longa-metragem estreou em 15 de dezembro de 1939, no Loew’s Grand Theatre, em Atlanta. Hattie não foi convidada para a estreia devido à lei Jim Crow, que segregava os negros em espaços públicos. E a opinião da comunidade negra da época ficou dividida: alguns chegaram a classificar o filme como uma “arma de terror contra a América negra”.

Em 29 de fevereiro de 1940, ocorreu a 12ª cerimônia de entrega do Oscar e Hattie venceu na categoria de atriz coadjuvante. Foi um feito histórico, pois ela se tornou a primeira mulher negra a ganhar a estatueta dourada.

No entanto, Selznick, um dos maiores produtores da Hollywood clássica da época, teve que pedir uma autorização especial para que ela entrasse no teatro. Ela se sentou em uma pequena mesa ao fundo, distante do elenco e das outras estrelas. Ela também não conseguiu posar para fotos com o resto do elenco no fim da cerimônia. 

Depois de Hattie, apenas em 1964 outro ator negro (Sidney Poitier) conseguiu subir ao palco do Oscar e, em 92 edições, o prêmio foi entregue a apenas oito atrizes negras: Whoopi Goldberg, Halle Berry, Viola Davis, Lupita Nyongo, Jennifer Hudson, Octavia Spencer, Mo’nique e Regina King.

Hattie ainda participou de outros filmes com as estrelas mais populares da época, como Shirley Temple, Katharine Hepburn e Bette Davis.

No fim da carreira, ela voltou para as rádios e continuou fazendo história: ela se tornou a primeira mulher afro-americana a protagonizar um programa de rádio, ganhando mil dólares por semana. Grande parte do seu salário era destinada a ajudar pessoas negras em situação de vulnerabilidade social.

O programa se tornou um sucesso, porém pouco depois de assinar o contrato, Hattie descobriu um tumor em seu peito. Ela morreu em 26 de outubro de 1952, aos 57 anos.

No seu testamento, ela fez dois pedidos: ser enterrada no cemitério Hollywood Forever e que seu Oscar fosse entregue à Universidade Howard. No entanto, tal cemitério não aceitava negros, e ela foi enterrada no campo de Angelus-Rosedale. Em relação ao seu Oscar, ninguém sabe que fim teve. Alguns acreditam que ele foi jogado no rio Potomac durante as revoltas ocorridas após o assassinato de Martin Luther King Jr., em 1968. Outros dizem que ele está perdido em algum porão. 


Fonte: Observatório do terceiro Setor.



Esperança Garcia

Esta mulher negra, mãe e escrava, não se calou frente a situação ao qual se encontrava, vindo a escrever uma carta reivindicando seus direitos. Esta mulher é considerada a primeira advogada do Piauí.



O ano era 1770 e uma mulher negra, mãe, escravizada, escreveu uma carta em 6 de setembro, endereçada ao governador da capitania do Piauí. Em ato de insurgência às estruturas que a desumanizavam, ela denunciava as situações de violência que ela, as companheiras e seus filhos sofriam na fazenda de Algodões, região próxima a Oeiras, a 300 quilômetros da futura capital, Teresina.

O documento histórico é uma das primeiras cartas de direito que se tem notícia. É um símbolo de resistência e ousadia na luta por direitos no contexto do Brasil escravocrata no século XVIII – mais de cem anos antes de o Estado brasileiro reconhecê-los formalmente.

Esperança Garcia possivelmente aprendeu a ler e escrever português com os padres jesuítas catequizadores. Após a expulsão dos jesuítas do Brasil, pelo marquês de Pombal e a passagem da fazenda para outros senhores de escravo, ela foi transferida para terras do capitão Antônio Vieira de Couto. Longe do marido e dos filhos maiores, usou a escrita como forma de luta para reivindicar uma vida com dignidade.

A carta foi encontrada em 1979 no arquivo público do Piauí, pelo pesquisador e historiador Luiz Mott. Em reconhecimento da importância histórica do documento escrito por Esperança, atendendo às reivindicações do movimento negro no Piauí, a data de 6 de setembro foi oficializada como o Dia Estadual da Consciência Negra, em 1999. Em setembro de 2017, duzentos e quarenta e sete anos depois da escritura da carta, através de solicitação da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra do Piauí, Esperança Garcia foi reconhecida pela OAB/PI como a primeira advogada piauiense.

A narrativa de Esperança é marcada pela indignação e a coragem de resistir. Denuncia os maus tratos, o autoritarismo e requer o direito de viver livre de violência para si e para os outros. É uma singular expressão da luta por direitos humanos que nasce das senzalas, das ruas, dos lugares onde as sujeitas historicamente oprimidas se insurgem por liberdade e igualdade.

Conhecer, lembrar e compartilhar a voz de Esperança Garcia é um imperativo para a luta contra o racismo e por igualdade de gênero, raça e classe no Brasil. É também alimento para a força e coragem de resistência do povo brasileiro ao perigo de uma única história, a do colonizador. É peça fundamental para compor as memórias de luta e resistência do povo negro e construir as caixas amplificadoras de vozes historicamente silenciadas.

 

Fonte: Instituto Esperança Garcia. 



A mulher que conduziu a humanidade a lua

 Mulher, Negra e Matemática, esta é Katherine Coleman Goble Johnson. Sua astúcia e inteligência foi notada pela NASA, sendo pioneira; seus conhecimentos viabilizaram que a humanidade conseguisse chegar até a lua.


Nascida em 26 de agosto de 1918 na cidade de White Sulphur Springs, nos Estados Unidos, Katherine Coleman Goble Johnson foi uma importante matemática. A cientista fez contribuições para a aeronáutica e exploração espacial.

Katherine tinha talento com a matemática desde criança. Aos 14 anos, ela concluiu o ensino médio e, em 1939, se tornou a primeira negra a se graduar na Universidade da Virgínia Ocidental, em Morgantown. 

De início, os primeiros empregos de Katherine depois de formada foram como professora de matemática em uma escola pública para negros, já que não tinha oportunidades de alcançar cargos mais altos. 

Durante uma reunião de família, ela ficou sabendo que a Nasa estava com o processo seletivo aberto para mulheres, em especial as negras, para vagas de trabalho no Comitê Assessor Nacional de Aeronáutica. Ela se inscreveu em 1953 e logo foi aceita.

Katherine começou a trabalhar como “computadora”. Na época, todos os cálculos eram feitos a mão, já que os computadores eletrônicos ainda não existiam. Ela fez parte da equipe no Centro de Pesquisa Langley, onde se fazia cálculos para o lançamento de sondas e foguetes.

No entanto, ela não se contentou apenas com essa função e pediu para participar das reuniões com os engenheiros, algo inédito para uma mulher e afro-americana. O ato de coragem abriu portas para outras mulheres, o que fez com que ela ganhasse ainda mais o respeito dos colegas.

Katherine foi a responsável pelos cálculos finais para a missão que levou o astronauta John Glenn a orbitar a Terra pela primeira vez, em 1962.

Em 2015, já com 97 anos, ela recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior condecoração civil dos Estados Unidos, por seus mais de 30 anos de trabalho na agência espacial e por ter inspirado diversas mulheres negras no país e ao redor do mundo.

Em 2016, a vida de Katherine foi contada no filme ‘Estrelas Além do Tempo’. A produção conta a história dela e de duas amigas, Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), que, além de terem que provar a competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito para que consigam ascender na hierarquia da Nasa. Taraji P. Henson interpretou a matemática. Johnson morreu no dia 24 de fevereiro de 2020, aos 101 anos.

Fonte: Observatório do terceiro Setor. 



Clara Camarão

 

Clara Camarão, foi uma mulher indígena que lutava por seus princípios e para salvar sua terra. Clara, batalhava bravamente em prol da defesa do território nacional.





Clara Camarão nasceu no século XVII, no Rio Grande do Norte, apesar de ter vivido na capitania de Pernambuco. Recebeu o nome “Clara” quando foi batizada no cristianismo – não há registros de seu nome original indígena. Já o sobrenome se deve à união com o também indígena Poti (nome tupi cuja tradução é “camarão”), conhecido por Antônio Felipe Camarão – que, assim como ela, foi catequizado por padres jesuítas.

Segundo registros, Clara acompanhou o marido em batalhas contra os invasores holandeses. Sua primeira missão oficial, porém, foi liderando uma tropa feminina que escoltava famílias em busca refúgio na cidade de Porto Calvo, em Alagoas, na década de 1630.

Na data provável de 23 de abril de 1646, no episódio conhecido como a Batalha de Tejucupapo, Clara teve grande atuação. Quando os holandeses souberam que as tropas lideradas por Felipe Camarão haviam sido convocadas para proteger Salvador, tentaram invadir Tejucupapo, região no litoral pernambucano. Porém, foram surpreendidos pela tropa feminina.

As mulheres ferveram tonéis de água e adicionaram pimenta. O vapor foi levado pelo vento e atingiu o exército holandês, deixando os combatentes com os olhos ardendo, desnorteados pela pimenta. Foi, então, que elas atacaram. As potiguaras surpreenderam os invasores com a pontaria e a força com que usavam seus arcos, seus tacapes (arma feita de madeira, semelhante a uma pequena espada) e suas lanças – e triunfaram.

A bravura dessas mulheres – que ficaram conhecidas como “Heroínas de Tejucupapo” – fez com que elas fossem chamadas para participar de um dos maiores confrontos contra os holandeses, a primeira Batalha de Guararapes (1648). Derrotados, os holandeses se renderam em 1654, no Recife.

Fonte: MultiRio.

Irena Sendler: a salvadora !

 Irena, mulher, assistente social, presenciou de perto as atrocidades advindas do holocausto nazista. Não compactuando com tais atrocidades, salvou cerca de 2.500 crianças judias do horrores do holocausto, vindo a ser presa, torturada e condenada à morte por fuzilamento, contudo, conseguiu escapar da sua morte eminente.



Irena Sendler foi uma ativista polonesa na época da Segunda Guerra Mundial, responsável por salvar a vida de mais de 2.500 crianças judias dos horrores do Holocausto. À época da ocupação alemã, Irena era assistente social na Polônia. Trabalhando com enfermeiras, fazia refeições para os mais pobres e necessitados. Em meados da década de 1930, já tinha sido disciplinada por ser contra as discriminações acadêmicas contra os judeus e por ter influências comunistas. Uma de suas maiores preocupações eram os filhos nascidos fora de casamento, bem como suas mães, já que ambos eram marginalizados.

Com a ocupação nazista, ela manteve seu emprego, conseguindo autorização dos alemães para frequentar o Gueto de Varsóvia, a fim de verificar se os habitantes não estavam com tifo (os nazistas temiam uma epidemia que atingisse, também, a eles).

Ela se juntou à resistência polonesa, a maior dentre os países ocupados na guerra e responsável pelo resgate do maior número de judeus no conflito, mais do que qualquer outra organização ou nação aliada. Filiou-se à Zegota, um conselho oficial polonês para o resgate de judeus, tornando-se líder da divisão que cuidava das crianças, sob o codinome Jolanta. Quando transitava pelos Guetos, Irena sempre usava a braçadeira com a Estrela de Davi para mostrar solidariedade aos judeus e não chamar a atenção dos alemães. Ela, secretamente, tirava as crianças dos guetos e fornecia identidades falsificadas. Levava-as, então, para casas de famílias dispostas a adotá-las, orfanatos e até conventos católicos. Tentava, também, manter listas das identidades dos infantes que resgatava, a fim de devolvê-los para suas famílias caso essas sobrevivessem à guerra.

Em 1943, a Gestapo, suspeitando das atividades de Irena, prendeu-a. Mesmo sob tortura, não revelou nada do que tinha feito, nem um nome sequer de alguém que tinha salvo. Ainda assim, foi condenada à morte por fuzilamento. No dia de sua execução, um dos guardas alegou que ainda precisava fazer-lhe algumas perguntas. Quando se afastaram, ele mandou que ela corresse para longe dali, tendo sido subornado pela Zegota. Ela foi dada como morta pelos nazistas e, sob nova identidade, continuou ajudando as crianças como podia.

Irena Sendler morreu aos 98 anos em 2008, mesmo ano em que foi indicada pela segunda vez ao Nobel da Paz. Sobre seus atos, a ativista afirmava, com nobreza: “Toda criança salva com a minha ajuda é a justificativa da minha existência na Terra, não um título para glorificar”.

Fonte: Aventuras na História (UOL). 



As Marcas da Ditadura

 É fato que coisas horríveis aconteceram durante a ditadura militar no Brasil, causando danos irreparáveis a inúmeras pessoas, uma destas é Sylvia Montarroyos, estudante de 17 anos que foi submetida a práticas de tortura e internada em um manicômio. Sua transgressão? Alfabetizar lavradores.


A estudante Sylvia Montarroyos tinha apenas 17 anos quando foi presa pelo regime militar por distribuir um jornal com conteúdo “subversivo” e alfabetizar lavradores.

Desacordada, recebia soro na ala feminina do Manicômio da Tamarineira, no Recife. Os “olhos diabolicamente ingênuos”, como descreveu o delegado que a prendera, estavam fechados. Media 1,55 m e pesava menos de 30 kg. Os cabelos longos tinham sido raspados em um quartel do Exército. No braço esquerdo, uma das queimaduras de cigarro que marcavam sua pele tinha infeccionado e cheirava a carne podre.

Sylvia de Montarroyos escreveu o livro de memórias ‘Réquiem por Tatiana’. O drama vivido pela ativista é relatado nas mais de 400 páginas do livro. Segundo Sylvia, a obra relata suas memórias desde 2 de novembro de 1964, quando foi presa, até o momento em que saiu do Brasil, quase dois anos depois.

“Durante este tempo, fui brutalmente torturada em vários quartéis de Pernambuco e cheguei a ser internada no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, que na época era Hospital da Tamarineira, onde fiquei por cerca de 10 meses. Cheguei lá pesando 23 quilos. O tratamento da época era à base de choques elétricos e drogas, mas mesmo assim consegui me recuperar um pouco. Então fui para a casa dos meus pais, mas fiquei só uma semana lá, pois os militares expediram mais um mandato de prisão. Fugi do Recife, passei um tempo no Rio de Janeiro e em São Paulo e, depois, fui para o Uruguai”, relatou Sylvia de Montarroyos.

Como Silvia, um levantamento do site UOL descobriu 24 casos de presos políticos internados pela ditadura militar em instituições psiquiátricas, em nove unidades da federação. Pelo menos 22 foram antes submetidos a tortura em prisões comuns. As internações foram determinadas pela Justiça Militar ou por autoridades que tinham os presos políticos sob custódia. A Ditadura Militar no Brasil teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito no país, e durou entre os anos de 1964 e 1985.

Fonte: Observatório do Terceiro Setor. 



Bárbara de Alencar

Uma personagem central na Revolução Pernambucana, sucedida no ano de 1817; e na Confederação do Equador em 1824; Bárbara Alencar lutava por um país livre, contudo, seus ideais fizeram com que esta fosse presa, vindo a ser a primeira presa política do Brasil.

Bárbara Pereira de Alencar nasceu em Exu, Pernambuco, em 11 de fevereiro de 1760. Foi uma comerciante e ativista política brasileira. Primeira presa política do Brasil, é considerada uma heroína da Revolução Pernambucana e da Confederação do Equador. Pertencente à família Alencar, ela se mudou ainda adolescente para a Vila do Crato, no Ceará, onde casou-se com o comerciante português José Gonçalves dos Santos. Com ele, teve quatro filhos. Um deles, José Martiniano de Alencar, é o pai do escritor José de Alencar. De família rica, Bárbara e seus filhos abraçaram com fervor a Revolução Pernambucana de 1817. Eles defendiam a independência em relação a Portugal e a instituição de um sistema republicano de governo.

O Governo de Pernambuco era obrigado a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comida, roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais, como a seca ocorrida em 1816, e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento no povo pernambucano e brasileiro. A revolução começada em Pernambuco logo foi para o Ceará, onde surgiu a República do Crato. Bárbara e seus filhos estavam à frente do movimento.

A República do Crato durou apenas 8 dias e Bárbara e seus filhos foram presos. Chegaram a ser tratados de forma cruel enquanto prisioneiros. No fim de 1820, Bárbara de Alencar foi perdoada pela Corte e voltou para casa, já sem os seus bens, que haviam sido confiscados. Mesmo após anos de prisão, ela continuou se envolvendo, ao lados dos filhos, em outros movimentos republicanos, dos quais o principal foi a Confederação do Equador, que começou em 1824 em Pernambuco e conquistou rapidamente as outras províncias da região, como Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os soldados oficiais venceram os confederados e dois filhos de Bárbara foram executados.

Ela morreu alguns anos depois, em 1832. Em dezembro de 2014, o nome de Bárbara Pereira de Alencar foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Bárbara não temeu a opressão que as mulheres de sua época viviam e lutou por um país melhor. Morreu como uma heroína.

Fonte: Observatório do Terceiro Setor.





Nise da Silveira

Nise da Silveira foi uma mulher que revolucionou os parâmetros terapêuticos psiquiátricos. Essa mulher ilustre foi uma psiquiatra que enxergou na arte uma proposta alternativa para tratamento mental, contribuindo amplamente nesse âmbito.


Nise Magalhães da Silveira (1905 – 1999) nasceu em Maceió (AL). A psiquiatra se formou em 1926 na Faculdade de Medicina da Bahia e foi a única mulher da turma de 158 alunos. Os estudos de Nise sobre o inconsciente foram inspirados pelo trabalho de Carl Gustav Jung. Ela foi responsável pela introdução da psicologia junguiana no Brasil. Nise conquistou reconhecimento mundial por ter elaborado abordagens humanizadas para pessoas com transtornos mentais e por se opor a tratamentos extremos como o choque elétrico, lobotomia e o confinamento.

A psiquiatra defendia o uso da arte para a manutenção da saúde mental, especialmente modelagem e pintura. Além disso, Nise incentivava os pacientes – que ela preferia chamar pelo nome próprio ou por clientes – a manter contato e cuidar de cães e gatos. Inclusive, A médica escreveu um livro dedicado aos felinos, chamado Gatos, a Emoção de Lidar.

Acusada de ter envolvimento com o comunismo por ter livros marxistas em seu acervo pessoal, a psiquiatra foi presa durante o governo de Getúlio Vargas, entre 1936 e 1937. Neste período, Nise conheceu  o escritor Graciliano Ramos no presídio, que chegou a mencioná-la no livro Memórias do Cárcere.

Em 1952, os trabalhos artísticos de parte dos pacientes de Nise da Silveira foram reunidos no Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Alguns dos quadros foram levados para o II Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique, na Suíça. A exposição foi inaugurada pelo próprio Carl Jung.

Em 1956, Nise inaugura a Casa das Palmeiras, um centro de tratamento que tem a proposta de oferecer atividades para reinserir na sociedade indivíduos que tiveram alta psiquiátrica.

A médica dá o nome de várias instituições ligadas ao estudo da mente, como a Associação Nise – Imagens do Inconsciente, em Paris, na França, e o Instituto Municipal Nise da Silveira, no Rio de Janeiro. O trabalho desenvolvido no Museu do Inconsciente foi retratado no documentário Imagens do Inconsciente (1987), dirigido por Leon Hirszman. Em 2016, a psiquiatra foi interpretada por Glória Pires no filme Nise – O Coração da Loucura.

Em 2017,a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) incorporou o acervo da psiquiatra ao registro internacional do Programa Memória do Mundo, que tem por objetivo facilitar a preservação do patrimônio documental mundial e torná-lo acessível a todos. Segundo a entidade, a indicação garante a preservação dos ensinamentos da renomada psiquiatra brasileira que, por meio de cartas trocadas com Carl Jung, deu abertura para a entrada da psicologia junguiana na América Latina. Em decorrência de uma pneumonia e insuficiência pulmonar, Nise faleceu em 1999, aos 94 anos, no Rio de Janeiro.

Fonte: Revista Cult (UOL).







Leolinda Figueiredo Daltro

Educadora, sufragista e indigenista, assim era conhecida Leolinda Figueiredo Daltro, essa mulher que não se conformava com as conjunturas patriarcais ficou conhecida como “mulher do diabo” apenas por lutar pelo direito das mulheres e deter senso de justiça.


Leolinda Figueiredo Daltro nasceu na Bahia, em 14 de julho de 1859, foi professora, sufragista e indigenista, e lutou pela autonomia das mulheres. Em 1910, juntamente com outras mulheres, fundou o Partido Republicano Feminino. Em 1917, liderou uma passeata exigindo a extensão do direito ao voto às mulheres. O senso de justiça de Leolinda a fez ficar conhecida como “a mulher do diabo” em 1909.

No Brasil fervorosamente católico da época, uma mulher desquitada, ativa politicamente, que circulava em ambientes masculinos, acreditava na transformação pela educação e lutava para garantir o direito das mulheres ao voto não poderia ser considerada outra coisa senão “diabólica”. Como era costume na época, casou-se cedo e teve dois filhos. Porém, logo separou-se do marido, encontrando uma motivação para estudar para ser professora e ajudar nas economias de casa.

Aos 24 anos, casou-se novamente e mudou-se para o Rio de Janeiro “em busca de melhores condições de vida”. Com o novo marido, Leolinda teve mais três filhos. Logo após sua ida para o Rio de Janeiro, Leolinda se separou ou ficou viúva, não se sabe ao certo. Fundou o Partido Republicano Feminino com a poetisa carioca Gilka Machado em 1910, bem como três jornais dedicados à mulher, além de publicar dois livros nos quais contou aspectos de sua vida. Por mais de dez anos, Leolinda e suas companheiras de partido criticaram a cidadania incompleta das mulheres e participaram de todos os eventos que podiam ter repercussão na imprensa.

Além disso, Leolinda percorreu o interior do Brasil a fim de estimular a alfabetização laica de comunidades indígenas, uma vez que o sistema vigente na época era de catequização e conversão ao catolicismo. Em 1902, em uma viagem ao sertão de Goiás, procurou o Instituto Histórico Brasileiro para propor a criação de uma associação civil de amparo aos indígenas. Daltro foi impedida de participar pessoalmente da reunião sob a alegação de que era mulher. A partir de 1890, o voto deixou de ser considerado como um símbolo e passou a ser visto como uma chave para mudanças.

As sufragistas diziam que as vidas das mulheres não melhorariam até que os políticos colocassem seus olhos no eleitorado feminino. A luta pelo direito de voto era um meio para atingir um fim. Em 1913, os jornais deram ampla publicidade ao movimento das suffragettes, quase sempre reforçando que este não era um comportamento que as brasileiras deveriam seguir.

Na década de 1930, Leolinda ainda estava ativa na luta pela emancipação feminina, fazendo parte da Aliança Nacional de Mulheres. Leolinda, na maioria das vezes, foi mal compreendida e teve que suportar piadas e zombarias em relação à sua luta. Ela não queria revolucionar o papel da mulher na sociedade. O objetivo era reformar seu papel, integrando a mulher de forma mais justa e igualitária na sociedade brasileira e dando oportunidades para que as mulheres fizessem parte da vida pública.

Ela também procurou reformar as leis para que as mulheres brasileiras atuassem de forma igualitária à dos homens, com as mesmas oportunidades e direitos. Leolinda foi uma das pioneiras da luta pelos direitos das mulheres no Brasil. E até hoje lutas como a dela seguem necessárias, já que as mulheres trabalham e estudam mais, mas continuam ganhando menos que os homens no país.

Fonte: Observatório do Terceiro Setor.



Até onde vai o amor de uma mãe pelo filho?

 O amor de Zuzu Angel por seu filho foi algo inexplicável, uma mulher trabalhadora e de renome, Zuzu se viu envolta de uma adversidade sem precedente, ao buscar de diversas formas desvendar o que houve com seu amado filho, sendo que este havia sido assassinado. Por perseguir a verdade, Zuzu foi morta pela ditadura.

Zuleika Angel Jones, ou apenas Zuzu Angel, foi uma das mais importantes estilistas da história da moda no país, além de incansável oponente da violência do governo militar. Mãe de Stuart Edgar Angel Jones, torturado e assassinado pela ditadura, Zuzu passou anos denunciando as arbitrariedades da repressão até morrer em um acidente de carro suspeito em 1976. Zuzu se casou com o estadunidense Norman Angel Jones em 1943 e teve três filhos: Stuart e as meninas Hildegard e Ana Cristina. 

O casal se separou em 1960. A carreira como estilista começou ainda no final dos anos 1950 e a levou ao mercado internacional nos anos 1970, tendo como clientes estrelas como as atrizes Kim Novak e Joan Crawford. Na manhã do dia 14 de maio de 1971, seu filho Stuart, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), foi preso no Rio de Janeiro e levado para a Base Aérea do Galeão. Segundo depoimento do preso político Alex Polari de Alverga, que esteve com ele naquela unidade da Aeronáutica, Stuart foi brutalmente torturado e não resistiu, vindo a falecer na noite daquele mesmo dia. 

A partir daquele momento, Zuzu passou a buscar informações sobre o filho e o direito de sepultá-lo, denunciando as arbitrariedades praticadas pela ditadura à imprensa e a órgãos internacionais. Ainda em 1971, realizou um desfile/protesto no consulado brasileiro em Nova York. Suas criações incorporaram elementos que denunciavam a situação, com estampas representando tanques de guerra, canhões, pássaros engaiolados, meninos aprisionados, anjos amordaçados. Zuzu morreu em 1976, no que a ditadura classificou como um acidente automobilístico na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado (RJ). 

Mas, em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista. Segundo depoimentos, ela teria sido jogada para fora da pista por um carro pilotado por agentes da repressão. Hoje, o túnel é chamado Zuzu Angel. 

Fonte: Memórias da ditadura.




A primeira romancista negra do país

Maria Firmina dos Reis, mulher negra, amante da literatura, foi a primeira mulher romancista do Brasil, remodelando os moldes conjunturais patriarcais. Maria Firmina era uma abolicionista que tinha em seu coração muita compaixão, vindo a ensinar os pobres.


São Luís, 11 de agosto de 1860. Logo nas primeiras páginas do jornal A Moderação, anunciava-se o lançamento do romance Úrsula, “original brasileiro”. O anúncio poderia passar despercebido, mas algo chamava atenção em suas últimas linhas: a autoria feminina da “exma. Sra. D. Maria Firmina dos Reis, professora pública em Guimarães”. Foi assim, por meio de uma simples nota, que a cidade de São Luís conheceu Maria Firmina dos Reis – considerada a primeira escritora brasileira, pioneira na crítica antiescravista da nossa literatura.

Negra, filha de mãe branca e pai negro, registrada sob o nome de um pai ilegítimo e nascida na Ilha de São Luis, no Maranhão, Maria Firmina dos Reis (1822 – 1917) fez de seu primeiro romance, Úrsula (1859), algo até então impensável: um instrumento de crítica à escravidão por meio da humanização de personagens escravizados.

“Em sua literatura, os escravos são nobres e generosos. Estão em pé de igualdade com os brancos e, quando a autora dá voz a eles, deixa que eles mesmos contem suas tragédias. O que já é um salto imenso em relação a outros textos abolicionistas”, conta a professora Régia Agostinho da Silva, professora da Universidade Federal do Maranhão e autora do artigo “A mente, essa ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis e a escrita feita por mulheres no Maranhão”.

Além de ter se lançado em um gênero literário sem precedentes no Brasil – e dado as diretrizes para os romances abolicionistas que apareceriam apenas décadas depois -, Firmina foi a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão para o cargo de professora de primário. Com o próprio salário, sustentava-se sozinha em uma época em que isso era incomum e até mal visto para mulheres. Oito anos antes da Lei Áurea, criou a primeira escola mista para meninos e meninas – que não chegou a durar três anos, tamanho escândalo que causou na cidade de Maçaricó, em Guimarães, onde foi aberta.

“A autora era bem conhecida para os maranhenses do seu tempo. Professora, gozava de certa circularidade nos jornais. Apesar de mulher, não era um pária social no período no qual viveu, mas claro que enfrentou o silenciamento da sua obra”, conta Silva.

Esquecida por décadas, sua obra só foi recuperada em 1962 pelo historiador paraibano Horácio de Almeida em um sebo no Rio de Janeiro – e, hoje, até seu rosto verdadeiro é desconhecido: nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de Guimarães está uma gravura com a face de uma mulher branca, retrato inspirado na imagem de uma escritora gaúcha, com quem Firmina foi confundida na época. O busto da escritora no Museu Histórico do Maranhão também a retrata “embranquecida”, de nariz fino e cabelos lisos.

O contato de Firmina com a literatura começou cedo, em 1830, quando mudou-se para a casa de uma tia um pouco mais rica, na vila de São José de Guimarães. Aos poucos, a jovem travou contato com referências culturais e com outros de seus parentes ligados ao meio cultural, como Sotero dos Reis, um popular gramático da época. Foi daí, e do autodidatismo, que veio o gosto pelas letras.

Quando se tornou professora, em 1847, Firmina já tinha uma postura antiescravista bem desenvolvida e articulada. Ao ser aprovada no concurso para professora, recusou-se a andar em um palanque desfilando pela cidade de São Luís nas costas de escravos. “Na ocasião, Firmina teria afirmado que escravos não eram bichos para levar pessoas montadas neles”, afirma Silva.

Mas era praticamente impossível para uma mulher expor sua opinião contra a escravidão – ainda mais uma mulher negra. Foi a estabilidade e o respeito alcançados como professora que abriram espaço para Firmina lançar seu primeiro livro, o romance Úrsula, no qual enfim publicaria seu ponto de vista sobre o tema.

Diferente dos escritos de mulheres da época, o romance não era “de perfumaria”, nem algo sem profundidade. Ao contrário: foi o primeiro livro brasileiro a se posicionar contra a escravidão e a partir do ponto de vista dos escravizados – antes até de Navio negreiro, de Castro Alves (1880), e de A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães.

Em Úrsula, Firmina faz questão de mostrar a crueldade de Fernando, senhor de escravos e vilão da história. Mas a pérola do livro é a personagem Suzana, uma mulher escravizada que, frequentemente, recorda-se de sua época de liberdade. “É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos”, escreve, em determinado momento. Para Silva, a forma é bastante característica de Firmina: “O escravo firminiano é, antes de tudo, aquele que fala da África, que só reconhece a verdadeira liberdade, no tempo em que vivia naquela África saudosa e nostálgica”.

Anos depois, quando já se firmara como escritora e professora – e quando o movimento abolicionista já estava mais difundido no Brasil -, a autora publicaria um conto ainda mais crítico, A escrava (1887), que conta a história de uma mulher de classe alta sem nome que tenta, sem sucesso, salvar uma mulher escravizada.

 “Os tempos eram outros. Em 1887, a escravidão era questionada no país inteiro. Em 1859, Maria Firmina dos Reis teve que usar um tom mais brando em seu romance, pois queria conquistar os leitores para a causa antiescravista. Leitores que, na sua imensa maioria, eram da elite e provavelmente tinham escravos”, afirma a pesquisadora.

Com o passar dos anos, tendo apenas um livro publicado, o nome de Firmina desapareceu. Para Silva, a insistência da autora em denunciar e criticar a escravidão pode ter sido a causa do obscurantismo. “O assunto de que tratava era insalubre demais, uma fala antiescravista em uma das províncias mais escravistas do Brasil. Não a levaram a sério localmente, não queriam ouvi-la falando. E ela não teve como levar seu texto para outros lugares.”

Pouco se sabe sobre outros possíveis textos de Firmina, sobre os detalhes de sua vida ou sobre como uma mulher negra de origem pobre alcançou tanto sucesso em pleno regime escravocrata. A própria biografia de Firmina, escrita por José Nascimento Morais Filho em 1975, tem como título Maria Firmina: fragmentos de uma vida.

Fonte: Revista Cult (UOL). 





Margarida Maria Alves

 Margarida, primeira mulher a exercer o cargo de sindicalista no Brasil. Não conformada com as condições aos quais os trabalhadores rurais eram sujeitados, lutou para que estes pudessem deter de direitos básicos. Lutando e defendendo o trabalhador rural, Margarida perdeu sua vida.


Margarida Maria Alves nasceu em Alagoa Grande (PB), no dia 5 de agosto de 1933. Eleita em 1973 presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, esteve à frente da luta pelos direitos básicos desses trabalhadores. Entre os direitos pelos quais lutava estavam trabalho com carteira assinada, 13º salário, jornada de trabalho de oito horas diárias e férias. Margarida Maria Alves foi uma das primeiras mulheres a exercerem um cargo de direção sindical no país e foi grande defensora dos direitos humanos no Brasil.

Durante o período em que esteve à frente do sindicato, a militante foi responsável por mais de 100 ações trabalhistas na justiça do trabalho local. Contudo, sua atuação no sindicato entrou em choque com os interesses do proprietário da maior usina de açúcar local (a Usina Tanques); de alguns senhores de engenho, remanescentes do período em que os engenhos dominavam a economia açucareira local e estadual; e de fazendeiros não ligados à lavoura da cana.

As denúncias de abusos e desrespeito aos direitos dos trabalhadores nas usinas da região, feitas por Margarida, resultaram no seu assassinato. Em seu discurso na comemoração do Dia do Trabalhador, em 1º de maio de 1983, Margarida denunciou que vinha recebendo ameaças de morte e disse sua frase mais famosa: “É melhor morrer na luta do que morrer de fome“. Três meses depois, ela foi assassinada. Os principais suspeitos pela morte da sindicalista são Agnaldo Veloso Borges, então proprietário da Usina Tanques, e seu genro, José Buarque de Gusmão Neto, mais conhecido como Zito Buarque.

A líder sindical tornou-se um símbolo de resistência e luta contra a violência no campo, pela reforma agrária e fim da exploração dos trabalhadores rurais. Quando Margarida foi assassinada, 72 ações trabalhistas estavam sendo movidas contra os fazendeiros locais. Após mais de 30 anos, nenhum acusado pela morte da sindicalista foi condenado, embora o crime tenha tido repercussão internacional.

Seu nome e sua história de luta inspiraram a Marcha das Margaridas, que foi criada em 2000. Postumamente, Margarida Maria Alves recebeu o Prêmio Pax Christi Internacional, em 1988. Todos os anos, na semana que antecede o dia 12 de agosto, na cidade de Alagoa Grande, a população traz à tona a memória da sindicalista, que foi a precursora feminina na Paraíba na defesa dos direitos dos trabalhadores do campo.

Fonte: Observatório do terceiro Setor.





Dorothy Mae Stang

 

Exemplo de mulher que bravamente teve sua vida ceifada em defesa de seus ideais. Irmã Dorothy morreu lutando pelo que acreditava, defendia a floresta e o povo daquela região.


=Dorothy Mae Stang era conhecida como Irmã Dorothy e foi uma religiosa norte-americana naturalizada brasileira. Em 1966, iniciou seu ministério no Brasil, na cidade de Coroatá, no estado do Maranhão.

Irmã Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de 1970, junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, junto aos trabalhadores rurais da área da rodovia Transamazônica. Seu trabalho focava-se também na minimização dos conflitos fundiários na região.

Atuou ativamente nos movimentos sociais no Pará. A sua participação em projetos de desenvolvimento sustentável ultrapassou as fronteiras da pequena Vila de Sucupira, no município de Anapu (PA), a 500 quilômetros de Belém do Pará, ganhando reconhecimento nacional e internacional.

A religiosa também participava da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde a sua fundação e acompanhou a vida e a luta dos trabalhadores do campo, sobretudo na região da Transamazônica, no Pará.

Defensora de uma reforma agrária justa, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Região Amazônica.

Dentre suas inúmeras iniciativas em favor dos mais empobrecidos, Irmã Dorothy ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu, a Escola Brasil Grande.

Em 2004, recebeu premiação da Ordem dos Advogados do Brasil (seção Pará) pela sua luta em defesa dos direitos humanos. Em 2005, foi homenageada pelo documentário livro-DVD ‘Amazônia Revelada’.

Por seu trabalho, era constantemente ameaçada, mas nunca se deixou intimidar. Pouco antes de ser assassinada, declarou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.

Irmã Dorothy Stang foi assassinada, com seis tiros, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu (PA). O fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida, acusado de ser o mandante do crime, foi condenado a 30 anos de prisão. O corpo da missionária está enterrado em Anapu.

Fonte: Observatório do terceiro Setor. 



Lélia Gonzalez

Lélia foi uma mulher de grande significância no âmbito das discussões quanto as relações de gênero e o ramal racial. Essa mulher negra, foi pioneira ao levantar a pauta da questão racial atrelada ao feminismo, influenciando um novo pensamento.


Lélia Gonzalez foi uma ativista e intelectual negra; denunciou o racismo e o sexismo como formas de violência que subalternizam as mulheres negras.

Nascida em Belo Horizonte, no dia 1° de fevereiro de 1935, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde graduou-se em História e Geografia, fez mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia Política. Atuou como professora em escolas de nível médio, faculdades e universidades.

Iniciou o primeiro curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Para Lélia Gonzalez, o conceito de cultura deveria ser pensado em pluralidade e servir como elemento de conscientização política. Neste sentido, por meio do curso de Cultura Negra, propunha uma análise da contribuição africana na formação histórica e cultural brasileira, tendo incorporado ao currículo aulas práticas de dança afro-brasileira, capoeira e o conhecimento das religiões de matriz africana.

Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra Discriminação e o Racismo (MNUCDR), em 1978, atualmente Movimento Negro Unificado (MNU), principal organização na luta do povo negro no Brasil e, integrou a Assessoria Política do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras.

Lélia também ajudou a fundar o Grupo Nzinga, um coletivo de mulheres negras e integrou o conselho consultivo da Diretoria do Departamento Feminino do Granes Quilombo.

Uma das primeiras obras publicadas pela ativista foi o artigo “Mulher negra: um retrato” e, na década de 80, publicou seu primeiro livro “Lugar de negro” em parceria com o sociólogo Carlos Hasenbalg. A obra trouxe um panorama histórico do modelo econômico de 1964, a inserção da população negra neste cenário e o resgate histórico dos movimentos sociais negros. Publicou em 1987 o livro “Festas Populares no Brasil”, onde registra as festas populares espalhadas pelo Brasil, traduzindo a diversidade das manifestações culturais de cunho religioso ou não. Além da festividade a obra mostra os laços indissociáveis entre Brasil e África.

Lélia faleceu em 10 de julho de 1994, seu legado através de sua obra acadêmica e militância contribuíram para impulsionar não apenas a problemática racial no Brasil, mas também o papel da mulher negra na sociedade.

Fonte: Fundação Cultural Palmares. 





SONIA GUIMARÃES PRIMEIRA MULHER NEGRA DOUTORA EM FÍSICA NO BRASIL  * São Paulo / BRASIL (1957) Sonia Guimarães é um exemplo vivo de determin...