Hattie McDaniel

 Hattie McDaniel foi uma grande atriz negra, fazendo história ao levar o Oscar (prémio máximo do cinema) em sua atuação no filme “E o vento Levou”. Além do presente feito, Hattie foi a primeira mulher negra a protagonizar um programa de rádio.



Hattie McDaniel nasceu em 1895, nos Estados Unidos. Ela foi a filha caçula de 13 filhos de um casal de escravizados libertos que fugiram para o Kansas por conta da extrema pobreza.

Criada em uma família religiosa, desde criança ela foi incentivada a cantar música gospel na igreja e ler muitos livros.

Hattie decidiu logo cedo que não queria seguir o caminho de servidão ao qual as mulheres da época eram destinadas, então, ao lado de dois de seus irmãos, montou um grupo de vaudeville (gênero de entretenimento de variedades).

Em 1929, com o crash da bolsa de Nova York, o seu espetáculo acabou falindo, e ela foi tentar a sorte em Milwaukee. Conseguiu um emprego no hotel Suburban Inn, de Sam Pick, onde trabalhava no banheiro feminino. Em uma noite, quando todos os artistas haviam ido embora, o gerente pediu que um voluntário subisse no palco. Hattie começou a cantar e então passou a protagonizar o espetáculo do lugar.

Esse foi o primeiro passo para ela se destacar no mundo do entretenimento. No entanto, na década de 1930, existia o código Hays, um sistema de autorregulação dos estúdios de Hollywood que proibia romances inter-raciais na tela e também não permitia que os negros tivessem acesso aos papéis violentos. 

Os atores negros só ocupavam papéis irrelevantes para a história, normalmente de motoristas, garçons e empregados, e Hattie não conseguiu escapar deste estereótipo. Sua vida mudou quando ela se tornou uma das estrelas de um dos grandes sucessos de Hollywood: E o vento levou.

Ela interpretou Mammy, a criada sarcástica que era a única capaz de colocar limites em Scarlett, interpretada por Vivien Leigh. Mesmo inserida no clichê de empregada que só vive em prol do seu amo, ela conseguiu ser um dos maiores destaques do filme.

O longa-metragem estreou em 15 de dezembro de 1939, no Loew’s Grand Theatre, em Atlanta. Hattie não foi convidada para a estreia devido à lei Jim Crow, que segregava os negros em espaços públicos. E a opinião da comunidade negra da época ficou dividida: alguns chegaram a classificar o filme como uma “arma de terror contra a América negra”.

Em 29 de fevereiro de 1940, ocorreu a 12ª cerimônia de entrega do Oscar e Hattie venceu na categoria de atriz coadjuvante. Foi um feito histórico, pois ela se tornou a primeira mulher negra a ganhar a estatueta dourada.

No entanto, Selznick, um dos maiores produtores da Hollywood clássica da época, teve que pedir uma autorização especial para que ela entrasse no teatro. Ela se sentou em uma pequena mesa ao fundo, distante do elenco e das outras estrelas. Ela também não conseguiu posar para fotos com o resto do elenco no fim da cerimônia. 

Depois de Hattie, apenas em 1964 outro ator negro (Sidney Poitier) conseguiu subir ao palco do Oscar e, em 92 edições, o prêmio foi entregue a apenas oito atrizes negras: Whoopi Goldberg, Halle Berry, Viola Davis, Lupita Nyongo, Jennifer Hudson, Octavia Spencer, Mo’nique e Regina King.

Hattie ainda participou de outros filmes com as estrelas mais populares da época, como Shirley Temple, Katharine Hepburn e Bette Davis.

No fim da carreira, ela voltou para as rádios e continuou fazendo história: ela se tornou a primeira mulher afro-americana a protagonizar um programa de rádio, ganhando mil dólares por semana. Grande parte do seu salário era destinada a ajudar pessoas negras em situação de vulnerabilidade social.

O programa se tornou um sucesso, porém pouco depois de assinar o contrato, Hattie descobriu um tumor em seu peito. Ela morreu em 26 de outubro de 1952, aos 57 anos.

No seu testamento, ela fez dois pedidos: ser enterrada no cemitério Hollywood Forever e que seu Oscar fosse entregue à Universidade Howard. No entanto, tal cemitério não aceitava negros, e ela foi enterrada no campo de Angelus-Rosedale. Em relação ao seu Oscar, ninguém sabe que fim teve. Alguns acreditam que ele foi jogado no rio Potomac durante as revoltas ocorridas após o assassinato de Martin Luther King Jr., em 1968. Outros dizem que ele está perdido em algum porão. 


Fonte: Observatório do terceiro Setor.



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