Zacimba Gaba, princesa em seu país de origem (Angola), que foi capturada e enviada ao Brasil. Nessa nova terra, foi feita escrava, contudo, o sangue da guerreira africana falou mais alto. Zacimba lutou bravamente para prover a liberdade de seu povo, ao qual foram feitos cativos.
Zacimba Gaba foi uma princesa guerreira cuja história foi, por muitos,
esquecida, devido ao projeto que se impôs no Brasil de apagar a memória da
escravidão. Trata-se de uma princesa do reino de Cabinda, na Angola, África,
nascida no século 17, que comandou seu povo numa guerra contra a invasão portuguesa
na região costeira. Cabinda, na década de 1690, foi praticamente dizimada pelas
tropas portuguesas e seus sobreviventes foram capturados e mandados ao Brasil
como escravos.
No Espírito Santo, Brasil, ela foi vendida junto a 12 de seus súditos
ao fazendeiro português José Trancoso. No campo de trabalho, Zacimba foi
cruelmente castigada por não se submeter às ordens do senhor. Num primeiro
momento, Trancoso não tinha noção do status de Zacimba entre os angolanos, mas
percebeu logo o diferente tratamento dado a ela.
Um dia, a princesa foi levada à
Casa Grande, onde Trancoso a interrogou por dias, para confirmar que ela era
uma soberana. Nesse tempo, foi chicoteada e agredida, até admitir sua posição.
Satisfeito, Trancoso estuprou Zacimba. O fazendeiro percebeu o poder dessa
informação, e deixou claro que se houvesse qualquer levante e algo ocorresse
com ele ou sua família, ele mataria Zacimba.
A
princesa foi proibida de sair da Casa Grande e submetida a sessões de tortura
física e psicológica. O mesmo ocorreu em massa entre os homens de seu povo,
chicoteados diariamente nos campos. O sentimento de revolta pela sua libertação
aumentava.
Uma arma muito utilizada entre os escravos brasileiros, como retruco
contra capatazes violentos, era o envenenamento. Era comum o uso de um veneno
proveniente da cabeça de uma cobra conhecida como preguiçosa — possivelmente,
uma jararaca — no Vale do Cricaré, que é mortal em pequenas doses constantes. O
veneno era conhecido como pó de amassar sinhô. O veneno devia ser dado em
várias doses pequenas, pois não funcionava instantaneamente. Porém, com medo
desse tipo de golpe, os senhores costumavam obrigar os escravos a experimentar
as comidas que traziam, para provar que não estaria envenenada. Com essa
consciência, Zacimba demorou anos para envenenar José Trancoso sem matar nenhum
de seus irmãos.
Quando finalmente Trancoso morreu envenenado, Zacimba estava preparada
e ordenou a invasão da Casa Grande pelos escravizados presos na senzala. Todos
os torturadores foram mortos, mas a família do português foi poupada. Zacimba
guiou seu povo pela fazenda, guerreando contra os capatazes, e fugiu, fundando
um quilombo no Norte do Espírito Santo, hoje município de Itaúnas. Finalmente
livre, o povo de Zacimba se tornou grande condutor de revoltas pela liberdade,
e seu quilombo se tornou ponto de referência para escravos fugidos. A princesa
passou o resto da vida guiando batalhas no porto de São Matheus, pela
libertação dos negros que eram vendidos chegados de África, e a destruição dos
navios negreiros. Persistente em sua luta pela liberdade, a princesa guerreira
morreu invadindo um navio português, lutando pela libertação de seu povo
cabindense.
Fonte: Aventuras na História
(UOL)
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