Ativismo na defesa das mulheres
O ASSASSINATO DA MULHER QUE
LUTOU PELO DIVÓRCIO NO BRASIL
Anita Carrijo/ Foto: Biblioteca Nacional
Anita Carrijo era
uma das líderes nacionais do movimento pelo divórcio em uma época em que era
permitido apenas o desquite no Brasil. O divórcio só foi aceito no país em
1977.
Escritora e
membro da Federação das Mulheres do Estado de São Paulo (FMESP), palestrava em
associações que defendiam os direitos das mulheres sobre a importância da
emancipação feminina, o direito ao divórcio e a creche para as crianças de
mulheres trabalhadoras. Por seu trabalho, tornou-se nacionalmente conhecida.
Ela exigia uma
mudança na lei brasileira de 1934, que caracterizava o casamento como algo
indissolúvel e pedia que ela fosse revogada na Constituição brasileira de 1946.
A dentista
conclamava o apoio público de políticos. Ela dizia: “é preciso darem o seu
apoio ao movimento divorcista publicamente, sem receio de ofenderem seus
princípios religiosos, já que os mesmos não nos dão, em caso de infelicidade no
matrimônio, nenhuma solução moral compatível com a realidade da vida.
Anita, no
entanto, não viveu tempo suficiente para ver o divórcio se tornar legalmente
possível no país. Ela foi encontrada morta em seu apartamento em 13 de maio de
1957 e seu assassinato nunca foi solucionado.
Fotografias de
seu cadáver amordaçado estamparam jornais em todo o país. Por cima das imagens,
vinham manchetes como a da capa do tabloide fluminense A Luta Democrática:
“Assassinada em seu apartamento a líder feminista e divorcista”.
Seu corpo foi
encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) na tarde do mesmo dia. Segundo
o laudo oficial, a causa da morte foi asfixia mecânica e o legista
desconsiderou violência sexual, apesar da posição em que o corpo foi encontrado
e sua roupa de baixo estar revirada. O documento apontou também a presença de
álcool no sangue, bem como queijo e presunto no trato digestivo.
Para a polícia,
duas ou mais pessoas foram as responsáveis pelo crime, que foi tratado como
latrocínio, ainda que os objetos de valor como joias não tivessem sido levados
e o cofre da residência estivesse intocado. As únicas coisas que sumiram foram
uma máquina de escrever e um pequeno aparelho de diatermia.
A investigação do
homicídio pouco avançou. O laudo do legista foi, posteriormente, considerado
falho e não teve qualquer supervisão da então Delegacia de Segurança Pessoal.
Uma semana após o crime e as impressões digitais recolhidas no apartamento
ainda não tinham sido analisadas pelo serviço datiloscópico. Mais de cem
pessoas foram ouvidas pela polícia, mas todas foram soltas em seguida.
Uma campanha de
difamação logo começou na mídia sensacionalista. Anita foi acusada de receber
homens em seu apartamento, de ser traficante de drogas e de frequentar boates e
casas de prostituição. O caso foi arquivado em 1970 por falta de provas.
Anita foi
sepultada no Cemitério do Araçá, na capital paulista, mas seu túmulo foi
vendido para outra família e seus restos mortais não foram encontrados.
Fontes: BBC Brasil
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