A RAINHA GUERREIRA

 A rainha Amanirenas foi uma mulher de grande fibra, lutando bravamente ao lado de seus soldados contra os Romanos, que tentavam tomar suas terras. A guerra deixou marcas físicas na Rainha, ao qual perdeu a visão.



Também referenciada como Ameniras e Amanerinas. Rainha-mãe de Meroé, detentora do título de Candácia. Seu nome pode constituir uma alusão à divindade suprema egípcia Amon Ra. Informações sobre ela são fornecidas por escritores romanos, e alguns sugeriram que ela poderia ser a Candácia mencionada na Bíblia, cujo eunuco foi convertido ao cristianismo e batizado pelo apóstolo Filipe

A existência de Amanirenas é documentada em algumas fontes epigráficas. Na estela Hamadab, descoberta pelo arqueólogo John Garstang em 1910, haveria segundo alguns intérpretes uma alusão ao confronto entre tropas romanas e cuxitas, com a celebração da vitória africana no conflito de 25-21 a.C.  No mesmo monumento ela é retratada ao lado do filho Akindad, que dividia com ela o governo, em frente às divindades Amon e Mut, enquanto na parte de baixo aparecem prisioneiros deitados de bruços, em posição de submissão, que poderiam ser soldados romanos. Neste e noutros lugares ela é referida pelo termo kore, a palavra meroítica para governante.

Duas outras inscrições em que seu nome é certificado são grafites no templo de Daga, na Baixa Núbia, e a estela de Teriteqas, seu marido, onde ela é referida somente como Kdke, isto é, Candácia, Rainha-mãe. Segundo parece, as inscrições de Hamadab poderiam fazer referência ao período em que governava com o filho, Akindad, enquanto as outras dizem respeito ao período em que era co-regente e rainha-mãe, junto com o seu cônjuge.

Sua descrição marcial tem sido interpretada como uma alusão aos conflitos bélicos do período. Estrabão informa que Gaius Petronius, prefeito romano do Egito, lançou um contra-ataque aos cuxitas que tinham invadido a região de Tebas e passaram a controlar cidades como Elefntina, Syene, e Philae durante o governo de Aelius Gaius.  Segundo ele, os cuxitas aproveitaram-se do deslocamento das tropas romanas para uma batalha na Arábia e “escravizaram os habitantes e derrubaram as estátuas de Caesar”. A seguir, as tropas de Gaius Petronius marcharam contra os “etíopes” da “viril Candácia de um olho só” e os derrotaram em Pselchis, atingindo Napata e fixando uma guarnição militar na fortaleza de Qsar Ibrim. A rainha cuxita teria então atacado a guarnição, reabrindo as hostilidades, mas não deixa entrever o resultado do embate.

As descrições deste controverso acontecimento foram feitas por escritores romanos, em relatos marcados pela parcialidade e desprezo pelos “etíopes”.  É de se supor que Teriteqas tenha liderado a marcha inicial contra o Egito Romano, morrendo em batalha, quando Amanirenas assumiu sozinha a liderança do governo, representando parcialmente o filho. Muito provavelmente as incursões de Gaius Petronius não tenham ido tão longe ao sul do Nilo, e o certo é que os romanos jamais conseguiram impor sua autoridade ao sul do Egito nem impor-lhes o pagamento de tributo, limitando-se a manter postos militares na fronteira.

Além de proteger a integridade territorial e a independência do estado meroítico, Amanirenas inaugurou um período de prosperidade econômica que encorajou o florescimento do comércio, de trocas e o intercâmbio intercultural entre a região da Núbia e o mundo Mediterrâneo. Seu nome está associado ao período áureo de Meroé, que persistiria até a metade do século IV d. C.

Fonte: UFRGS

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